Esse livro se concentra nos seguintes eixos: uma identificação rigorosa de fenômenos variáveis do português brasileiro em dados do português europeu popular; uma interpretação do português brasileiro mais conforme à sua sócio-história; uma reflexão teórica inovadora sobre aquisição e mudança. Naro & Scherre demonstram que características morfossintáticas e fonológicas do português brasileiro, atualmente envoltas em estigma e preconceito social, são heranças românicas e portuguesas arcaicas e clássicas, e não modificações mais recentes advindas das línguas africanas, ou das línguas dos povos ameríndios. Tampouco seriam o resultado de processos de simplificação ou outras modificações espontâneas causadas pelo contato, durante o processo da transmissão não tradicional da língua. O português brasileiro não é o português simplificado ou o português com influência africana; é o português com as suas raízes originais, rurais e populares, transplantado para uma terra mais fértil e, consequentemente, com um desenvolvimento mais intenso. Longe de ser um português crioulizado, o português do Brasil é o português radicalizado.