A Voz dos MortosCada uma destas dezessete composições é um epitáfio composto. O conjunto transcende o memorial familiar e irradia uma potente tensão lírica. Em Os Mortos, Paulo Franchetti dialoga com seus antepassados. Os defuntos revelam as próprias falhas e as marcas que suas vidas deixaram sem dissimulação, enquanto o poeta responde com empatia, uma ternura que, embora exclua a condenação, não exclui o julgamento.A poesia é lapidar, despojada de ornamento retórico. Ao manter a gravidade que o contexto impõe, cria uma dicção única, ao mesmo tempo coloquial e solene. Efeito raro esse. Gera uma espécie de oralidade espectral, onde a fala de uma família brasileira descendente de árabes e italianos ressoa o Eclesiastes.Dar voz aos mortos é lugar-comum literário. Bem distinto é dar vida à voz dos mortos. Obra de maturidade, escrita por força de um impulso inevitável, esta série é uma meditação sobre a permanência da perda. Nela, Paulo retrata não somente os seus, claro está, mas a condição humana. Por outro lado, não é demais mencionar que as figuras do álbum - tendo ou não existido - são o poeta. Viveriam apenas nele, não fosse o verso.É um exorcismo da ausência, o que a poesia realiza aqui. Mas sem remissão, intuo. A arte, mesmo a maior, pode muito, mas não redime. [Thomaz Albornoz Neves]Acompanha cartão-postal