Luto é uma experiência universal da condição humana, inescapável e incontornável em toda a sua complexidade e impossibilidade de uma completa descrição ou compreensão. Dizem que não existe luto pior do que o da perda de um filho, e a história nos mostra como a mãe sempre foi uma figura emblemática do luto, seu eterno pranto e uso de roupas pretas um doloroso lembrete da dimensão que a perda pode tomar nas nossas vidas. Mas uma figura para quem pouco se pergunta sobre a dor de sua perda são os pais - pais generificados, pois falamos aqui dos?homens. Essas figuras pouco exploradas pelas ciências do psíquico e que mesmo sendo os indiscutíveis protagonistas da vida pública e social, amparados em toda instância por uma sociedade patriarcal, curiosamente parecem ter muito pouco a dizer sobre si mesmos em suas condições de seres enlutados. Será que, por falarem muito pouco sobre isso, eles de alguma forma sofrem menos que as mães? Ou estaria a própria forma como o homem se relaciona com a perda, e sobretudo a forma como a coloca em palavras, submetida a diferentes regras que as mães? Afinal de contas, do que é constituído o sofrimento dos pais enlutados? Através do relato e da análise do caso de quatro pais, profundamente diferentes em suas condições e circunstâncias, este livro busca analisar os principais elementos que constituem esse sofrimento, como eles se organizaram durante a vivência com os filhos e como se desatam no momento da perda. Os elementos que constituem o vínculo desses pais com seus filhos, expresso principalmente através das suas contribuições morais e pedagógicas na educação dos filhos, de um lado, e pela providência financeira da família do outro, nos dão pistas do tipo de laço de amor que é possível entrepais e filhos, e de quem eles podem se transformar ao final de seus trabalhos de luto. Este livro conta sobre quem esses pais se tornaram ao final de suas jornadas com a perda, como foi chegar até lá e quem eles se tornaram hoje.