Você já deve ter se deparado com pessoas, em geral homens, mas não exclusivamente, que custam a aceitar evidências da catástrofe social e ambiental em que vivemos. É contra esse tipo de negacionismo que a Cara New Daggett escreveu esse brilhante ensaio: Petromasculinidade: combustíveis fósseis e desejo autoritário. A autora nos convida a olhar para esse problema sob um novo ponto de vista: para Daggett, a figura do homem violento e negacionista tem muito a ver com a negação de desejos ancoradosdo modo de vida fóssil-autoritário, da forma da família nuclear burguesa, com o homem provedor do lar, suas mercadorias e salários e na própria divisão sexual do trabalho. A falta de conhecimentos a respeito dos impactos das chamadas democracia do carbono está ligada a uma posição de negação, já que os desejos do homem-fósssil estariam interrompidos pela catástrofe social climática - que ele conhece, mas não quer enxergar. Isso explica tanto seu desejo por carros quanto a defesa irrestrita da exploração de petróleo e gás ou tudo mais que a democracia fóssil representa, por vezes fazendo malabaarismos argumentativos, se dizendo humanista ou até em luta contra fome, em nome do desenvolvimento e da soberania nacional - sem notar que é justamente esse a economia fossil capitalista que leva a expoliação de territórios inteiros. Lado a lado com os poços de petróleo, a petro masculinidade se prolifera como um derivado sintético da violência fóssil, em cuja composição fundem-se misoginia, nostalgia e autodestruição. E, debaixo dessa fumaça tóxica, se proliferam movimentos tais como os personificados e alardeados pelos clãs de trump e bolsonaro.