Neste volume, ganha forma a voz de Alberto Caeiro - o mais enigmático e, paradoxalmente, o mais "simples" dos heterônimos do autor. Pastor autodidata, nascido em Lisboa e retirado para o campo, Caeiro é concebido como o poeta da presença pura, alguémque rejeita os labirintos do pensamento abstrato e encontra no olhar direto sobre o mundo o sentido mais verdadeiro da existência.Sua obra, reunida em três núcleos principais - O Guardador de Rebanhos, O Pastor Amoroso e os Poemas Inconjuntos - é marcada por uma linguagem deliberadamente simples e por uma clareza quase ingênua, que esconde, no entanto, uma profundidade filosófica notável. Caeiro não interpreta, não transcende, não busca significados ocultos. Para ele, ver é suficiente. Sentiré tudo. "Pensar é estar doente dos olhos", declara o poeta que se contrapõe às angústias da razão e da metafísica.Nesta figura de antipoeta - mestre natural dos demais heterônimos - Fernando Pessoa questiona a tradição lírica ocidental e propõe umaruptura radical: a poesia como celebração do instante, do visível, do real em sua forma mais direta. Caeiro representa tanto um ponto de partida quanto um desafio à própria arte poética, devolvendo à linguagem a sua função primordial de nomear o quese vê, sem excessos ou interpretações.