O território da História da Educação é hoje uma seara transnacional. É transnacional porque circula entre fronteiras, porque não se limita a estudos circunscritos aos domínios nacionais. É transnacional porque foge da ideia de transferência cultural.Recusa também a noção de influência e distancia-se de uma visão colonizada que pensa a circulação das ideias e das práticas apenas do centro para a periferia. Não. Aqui, trata-se de uma via de mão dupla, que inscreve o centro em todos os seus domínios. Trata-se de uma história em movimento, a qual confere significados globais a abordagens regionais ou locais. Este livro é uma evidente amostra dessa tendência, que se desenha hoje entre os historiadores da educação. Com objetos de estudo inscritos muito particularmente na dimensão da cultura escolar, os capítulos entrelaçam histórias de escola com um modo novo de olhar para o próprio percurso da escolarização e da educação em países e em regiões da América Latina, como indica o próprio título, Práticas culturais, práticas escolares: miradas históricas e novas problematizações. Os autores aqui reunidos, referências no campo da História da Educação, discutem o ofício da escolarização, a partir de seus usos e práticas, de suas táticas e estratégias, evidenciando a necessidade de um domínio de códigos imprescindíveis para se compreender o mundo da escola e para se alcançar a obtenção dessa experiência institucionalizada do ensinar e do aprender. A identidade dos professores não é pensada como se viesse de fora: ela está inscrita nos modos de organização da própria profissão e não de programas ditados do exterior. São regras artesanais da arte de ensinar, são maneiras de fazer, que constituem o ethos da profissão docente. Compreender isso, que já foi nomeado de gramática da escolarização moderna, requer também um olhar sobre os alunos. De que táticas eles se valem para se contrapor e confrontar muitas vezes os discursos, as práticas e as estratégias de seus professores e da própria instituição de ensino? Para tanto, o livro traz também o registro de imagens e brincadeiras infantis, de fotografias e álbuns de Jardins de Infância, abordando ainda exposições escolares e práticas pedagógicas que se constituem para além da sala de aula. Com isso, a cultura material da escolarização é posta em evidência, bem como as hibridações e os fluxos de passagem entre as distintas realidades regionais e nacionais no tocante às liturgias inscritas na vida escolar.