Este livro contempla um caminho possível para debatermos a complexidade do sofrimento humano expresso como violência nas relações. Sofrimento de todos nós: da sociedade, das vítimas, dos agentes e, por seu turno, dos profissionais que tem que lidar ou se posicionar profissionalmente sobre questões inerentemente humanas. A escolha de temas tão áridos (criminalidade, violência, perversão, "psicopatia") ocorreu devido à nossa convicção de que a violência cresce em gravidade, quantidade e divulgação a cada dia. Como nos diz Girard, "parece que estamos indo em direção a um encontro planetário de toda a humanidade com a sua própria violência". Muitos esforços são feitos para detê-la, mas, até o momento, quase todas se mostraram infrutíferas.Resultado de uma laboriosa tese de doutorado resultou mais que um estudo acadêmico ou especializado, tonando-se um claro apoio ao movimento humanista da "não-violência". É notória a falta de serviços psicossociais (em especial quanto à avaliação e acompanhamento continuado) que atendam, minimamente, as demandas psíquicas de pessoas em conflito com a lei em decorrência de "transtorno mental" (sofrimento psíquico grave). Por cinco anos pudemos avaliar e atender dezenas de pessoas que vivenciam tal sofrimento. Daí surgiram diversas questões: a Medida de Segurança seria, de fato, eficaz no tratamento de pessoas com transtorno mental em conflito com a lei? É possível avaliar, acompanhar ou mesmo cuidar de pessoas que cometeram crimes considerados hediondos pela sociedade? Estes questionamentos nos levaram à análise de diversos fatores que contribuem para a manutenção de um quadro de profundo desrespeito pelos direitos humanos destas pessoas. Observamos como a falta de senso crítico da sociedade (presente desde muito antigamente até os dias atuais) contribui ativamente para a falta de cuidados com a saúde mental de tais indivíduos.Uma das maiores contribuições, esperamos, é a apresentação de um caminho de avaliação que considere toda esta complexa realidade com vistas ao cuidado efetivo desta população. Por fim, para ilustrar, resumimos contundentes casos reais, autorizados pelos próprios agentes, avaliados e acompanhados pelo nosso grupo (Personna), afirmando claramente:sim, é possível abordar e cuidar destas pessoas, que, ao final e ao cabo, nunca deixaram de ser do gênero humano...