"Nicolau Maquiavel não é o pai da ciência política". "O secularismo europeu não surgiu a partir de suas obras". "A política 'maquiaveliana' está completamente ancorada em uma visão mítica e religiosa do mundo". Essas são apenas algumas, entre tantas outras, afirmações polêmicas que encontramos neste livro, que é publicado em hora oportunapara reavaliar esse status quaestionis e desmontar a maioria esmagadora dos comentários que são feitos a respeito do famoso autor florentino, a quem os apressados acusam de ter criado uma dupla moralidade para a política e escrito a infame frase "Os fins justificam os meios".Uma leitura inovadora, cientificamente rigorosa, com profundidade histórica e filosófica. Com muita versatilidade, o autor nos apresenta um texto multidisciplinar, destrinchando categorias de interpretaçãodas religiões comparadas e da antropologia cultural, aplicando-as de forma perfeitamente natural ao pensamento de Nicolau Maquiavel.Igualmente interessante é o estudo atento que é feito sobre as referências, de ordens antiga e clássica, que permeiam os textos maquiavelianos. Dante, Homero, Virgílio, Ovídio e muitos outros nomes de peso serão uma companhia frequente do leitor.Aliás, é justamente nisto que o livro encanta e impressiona: com uma prosa fluida, cativante, livre daquele pedantismo acadêmico que amarga a boca do leitor, absolutamente toda a obra do pensador florentino (das mais famosas às totalmente desconhecidas) é posta sob o crivo do autor, para demonstrar que a política e a religião cumprem uma função salvífica. Maquiavel, antes de ser um analista político, era um homo religiosus e um poeta.