Neste primeiro romance de Hélène Cixous traduzido para o português, a autora borra as fronteiras entre a autobiografia e a ficção ao revisitar a cidade natal de sua mãe, Osnabrück, na Alemanha, e explorar os vestígios e as memórias fragmentadas do trauma que atravessam seus espaços e habitantes. Ao recriar o sofrimento de bruxas, parteiras, judeus, prisioneiros e, sobretudo, de sua mãe Ève, Cixous desestabiliza os lugares onde o trauma foi vivido e entrelaça as vítimas em uma mesma tessitura. Osnabrück por vezes se confunde com Argel. E o Terceiro Reich alemão com o Império colonial francês. Os julgamentos de bruxas do século XVI se repetem em cada mulher suspeita, e esse trauma, refletido nas ruínas da sinagoga de Osnabrück incendiada em 1938, projeta-se também no futuro.Tradução e posfácio de Marcelo Jacques de Moraes