Publicado em 1934, S. Bernardo é o segundo romance de Graciliano Ramos e um dos pontos mais altos de sua obra. Narrado em primeira pessoa por Paulo Honório, o livro se apresenta como um relato de vida escrito já na maturidade, quando o protagonista repassa sua trajetória e tenta compreender seus erros. De origem pobre, Paulo Honório ascendeu socialmente por meio da esperteza, do cálculo e, sobretudo, da exploração do trabalho alheio. Tornou-se dono da fazenda S. Bernardo, símbolo de seu triunfo econômico e de seu desejo de poder. No entanto, o que poderia ser uma história de sucesso e superação revela-se um testemunho amargo. Paulo Honório construiu tudo à base da violência - física, social e afetiva -, e a fazenda cresceu ao mesmo tempo que a sua vida pessoal se tornou vazia. "Vencendo a vida, porém, ficou de certo modo vencido por ela: imprimindo-lhe a sua marca, ela o inabilitou para as aventuras da afetividade e do lazer", resume Antonio Candido em posfácio incluído nesta edição. No centro da narrativa está o casamento com Madalena, jovem professora idealista, cujo olhar sensível e ético contrasta com a mentalidade prática e dura de Paulo Honório. Incapaz de compreender ou aceitar esse mundo alheio às suas preocupações materiais, ele oprime e sufoca a mulher, conduzindo-a a um desfecho trágico. Para além da ascensão e derrocada de um homem, no entanto, o romance é uma reflexão sobre poder, afeto e fracasso, revelando os mecanismos de dominação em uma sociedade - até hoje - marcada visceralmente pela desigualdade. Com texto estabelecido a partir do cotejo de oito versões e notas editoriais que esclarecem variantes entre elas, esta nova edição reafirma o cuidado da Coleção Graciliano Ramos na Todavia com o rigor textual, a renovação crítica e a permanência literária de uma obra-prima.