Os marcos oficiais selecionados como emblemáticos da história paulistana reforçam eventos, personalidades e momentos que identificam a cidade ora com suas origens europeias, ora com o suposto heroísmo dos bandeirantes. Esses simbolismos se materializam no espaço urbano - em ruas, praças, monumentos e edificações - e, como contrapartida, promovem o apagamento das experiências e contribuições negras. O silenciamento das vozes negras é compreendido, em Sampa Preta, como expressão do racismo socioespacial. Diante desse apagamento, as produções culturais, artísticas, intelectuais e políticas da população negra são resgatadas como estratégias de afirmação identitária e como instrumentos de enfrentamento ao racismo. Registros de instituições negras, memórias, textos, músicas, associações recreativas, lideranças e ativistas são reunidos com o propósito de retirá-los da penumbra imposta pelo imaginário urbano hegemônico. A etnografia é mobilizada como ferramenta fundamental para a inscrição desses patrimônios culturais afrodescendentes, destruídos ou apagados pelas políticas higienistas e pelo urbanismo inspirado no modelo haussmanniano. Por meio de uma metodologia afrocentrada, ancorada na etno-história, buscamos recuperar as vozes dos nossos antepassados negros na cidade, reinscrevendo suas presenças e experiências na história de São Paulo.