A colossal estátua de Santo Afonso, Doutor da Igreja e Padroeiro dos Confessores e Moralistas, que contempla a cátedra do Apóstolo desde o ponto mais proeminente da basílica vaticana, pode dar a impressão, ao visitante desavisado, de um santo intransigente, rígido, dono de todas as certezas e moralista (na má acepção do termo). Nada mais falso. Santo Afonso foi o santo da prática, e a prática requer "jeito". Esta palavrinha, além de aparecer no título de quase 10 obras suas, foi um dos segredosde sua vida. Santo Afonso sabia que nossos ideais, por mais bonitos que sejam, precisam ser efetivados na vida concreta. E a vida concreta cobra seu preço. Nem sempre conseguimos exatamente o que sonhamos. O que fazer então? Desistir? desanimar? Anunciar o apocalipse? Santo Afonso dá a receita na primeira das regras que escreveu para sabermos se estamos fazendo, realmente, a vontade de Deus: "quem age só para Deus, não se perturba em caso de fracasso, porque, Deus não querendo, ele também não quer" (Prática do Amor a Jesus Cristo, cap. 7). Preservando o que é essencial, fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para que a coisa aconteça, e o resto, deixar nas mãos de Deus. Para ele, quando não é possível realizar 100%, podemos e devemos tentar o que é possível, como a semente da parábola, 60%, 30%. Aí está o segredo do "não se perturbar", de sua alegria e, mesmo, do bom humor com que encarava as maiores adversidades. Foi precisamente essa faceta que encantou Albino Luciani, mais tarde,João Paulo I, a ponto de escrever a carta aqui apresentada, recomendando-a a seu clero de Veneza. Só mesmo um santo (será beatificado em 04.09.2022), o santo do sorriso, para redescobrir, sob as várias camadas do verniz oficial, essa faceta, tão humana e tão atualmente importante, do "santo mais napolitano e napolitano mais santo de todos"