Em Se não for pra incomodar, nem chame Exu, Marina Correa propõe um giro epistêmico a partir de sua própria experiência no Terreiro Ilé Axé Alaroke, em Sergipe. Ela combina rigor acadêmico e sensibilidade antropológica quando atravessa os limites daetnografia convencional para construir uma epistemologia que nasce do corpo, da oralidade e da memória - memória que é de ancestralidade e de resistência. A obra reivindica uma crítica importante à colonialidade do saber e ao cristianismo como matrizmoral dominante e propõe outra gramática do sagrado, aquela em que o axé organiza o conhecimento. E esse é, inclusive, um presente-bônus que Marina deixa à pessoa leitora: um glossário de termos fundamentais para compreender o universo simbólico-espiritual do Candomblé, com significados enraizados em sua matriz iorubá. Num diálogo com autoras como Veena Das, Maria Lugones e Jeanne Favret-Saada, Marina ainda oferece a contribuição valiosa de pensar as religiões afro-brasileiras para além da captura eurocêntrica, devolvendo-lhes sua densidade simbólica e política. Nesse sentido, o que você agora tem em mãos é mais do que um livro, é um convite para escutar o que a encruzilhada tem a dizer e, sobretudo, para deixar-se transformar por ela.