Há uma distância imensa entre o olhar e o ver. A obra de José Saramago se produz como contínuo exemplo disso, seja nos romances, que propõem um questionamento que pede ao leitor que passe a reparar no que antes apenas via, seja nos contos, no teatro ou nos poemas, capturas de um real a se observar, em grande angular ou em zoom analítico. Esta coletânea pede que se volte sobre o já visto, que se acrescente uma nova interpretação ao que se leu. Assim, na troca de olhares aqui propostos, nota-se que a união das visões de vários leitores da obra saramaguiana, vindos de lugares e formações distintas, torna-se um belo exercício de expansão de horizontes. E como o próprio Saramago aponta, na crônica "Com os olhos no chão": "Tudo estaria novamente por contar".