Sobre o "Caso Marie Curie", de Gabriel PuglieseA Radioatividade e a Subversão do gêneroO nome de Marie Curie está na topo da história da ciência mundial, apesar de todas as barreiras que enfrentou para fazer seu trabalho. Este livro busca traçar o caminho que levou esta cientista polonesa a avançar tanto na pesquisa dos materiais radiotivos enquanto lutava contra os preconceitos da França do início do século XX.Era a França racista do caso Dreyfus, e a polonesa Marie Curie foi acusada de ser estrangeira, judia, ateia e destruidora de lares, por conta de sua relação com um jovem casado.O livro de Gabriel Pugliese torna-se, assim, uma brisa refrescante no cenário da história das ciências e, de quebra, com boas contribuições sobre questões de gênero. Acostumados que estamos a obras mais sisudas sobre esse campo de estudos, nos deparamos com um olhar novo sobre como os objetos da ciência se comportam - no caso objetos no sentido estrito, isto é, aqui, o rádio.Além de uma instigante revisita a uma trajetória das mais importantes na história das ciências - não só a de Marie Curie, como a de sua rede familiar -, a pesquisa de Gabriel se dedica também a nos mostrar a resistência, quase no sentido psicanalítico, que o mundo material opõe aos pesquisadores - o que, sem levar mais longe a metáfora possível a extrair daí, nos dá bastante lenha para pensar. O caso recente do bóson deveria nos levar a refletir mais sobre nossas relações com esse universo no qual vivemos e do qual (ainda) pouco sabemos.No entanto, é difícil resistir à metáfora sobre o empreendimento de Marie Curie e o que Gabriel chama de "subversão do gênero" - é como se as resistências materiais encontradas em sua pesquisa sobre a radioatividade correspondessem, de alguma maneira, às resistências encontradas por ela, como cientista mulher, no seu campo de estudos - e nas suas relações pessoais.Cabe lembrar aqui que essa pesquisa foi primeiro apresentada, e premiada, numa Reunião Brasileira de Antropologia.SOBRE O AUTOR: Gabriel Pugliese é graduado em Ciências Sociais pela Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (2005) e mestre (2009) e doutor (2015) em Ciência Social (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo. Atualmente é professor de antropologia na Universidade Federal do Vale do São Francisco.