A Solidão do Diabo, de Paulo Bentancur, traz 59 histórias fortes e surpreendentes nas quais as fronteiras morais são transgredidas com uma perigosa suavidade, entre o lírico e o lancinante, atingindo um raro resultado - a implacável serenidade filosófica de quem sobreviveu e não conta seus mortos. Os conceitos pelos quais transitamos cotidianamente, numa quase confortável sobrevivência, vão caindo. No lugar deles, uma resistência nova - resposta despida de qualquer fantasia e, paradoxalmente (eaí reside seu impacto maior), a entrega completa a uma realidade sem promessas. Nesse quadro quase apocalíptico (e, no entanto, intensamente humano), mistura-se a busca literária, em sua riqueza máxima da expressão verbal, com o entendimento de corações e mentes que chega às raias da auto-expiação. Nas narrativas de Bentancur, enquanto os grandes monstros se revelam patéticos, as pequenas coisas mostram seu lado aterrador.