Não é todo dia que nos deparamos com um escritor iniciante que oferece uma contribuição realmente significativa para a literatura brasileira.?Terras Nacionais e Terras Estrangeiras?apresenta algo de inédito na contística nacional ao desenvolver o quepoderíamos chamar de um?surrealismo do povo, pois aqui articulam-se o mundo material dos trabalhadores, metáforas advindas de universos semânticos os mais distantes, e ocasionais vislumbres teológico-apocalípticos. Essa mistura produz uma obra na qual a fidelidade realista, o lirismo imaginativo e um impulso de redenção iluminam-se mutuamente, gerando inesperados momentos de conjunção, assim como casos de choque. Mas não é só isso: em uma sociedade cuja imaginação narrativa é marcada por enredos mirabolantes, este livro compõe-se de quadros, nos quais a descrição tem primazia sobre a ação; em uma realidade cada vez mais narcisisticamente focada no indivíduo, este texto deliberadamente evita o "eu", lançando-se ao invés a uma concretude delirante das coisas e do "nós". Para quem se sente sufocado pela repetição sem fim da indústria da cultura, que inclui boa parte da literatura brasileira contemporânea,?Terras Nacionais e Terras Estrangeiras?é uma brisa alentadora.