O vertiginoso frescor de testoste-TRIP - livro de estreia de Felipe Eduardo Lázaro Braga - é, em si, um acontecimento. Pisar (com o pé direito) no acidentado e por vezes movediço campo da poesia brasileira contemporânea trazendo debaixo do braço elementos como a matemática, a psicanálise, Warhol & Wesley Safadão, Blue Space & Shakespeare, a deliciosa putaria conversada em aplicativos de encontros, diálogos com inteligências artificiais e tantos outros elementos magnificamente desconcertantes é tarefa arriscada. Lemos aqui uma espécie de Joaquim Cardozo atravessado pelo riso e pelas questões queer. Talvez do risco e do riso nasçam, justamente, os pontos altos deste alto livro - penso aqui em passagens como "Cagar é tão obsoleto"; "Se a FariaLima perdeu a cabeça, é preciso responder com elegância, à / Francesa"; "dois olhares irresistíveis: / ambos meus, / e um para cada glúteo"; "O maior século XX do século XX: E=mc2"; "Será que a vida não entende que, ao invés de cumprimentar cordialmente o Guilherme no trabalho, eu queria era esfregar minha língua no rabo dele?"; "Na beira da ponte da Marginal Tietê, nesse orgasmo de sombras que não me destrói, mas me recomeça".Porém o risco e o riso de testoste-TRIP não são da ordem do banal - são mais altos (ou mais baixos). São risco e riso encharcados da cabeça aos pés de política, de vigor queer, de atenção às muitas possibilidades do contemporâneo. Em outras palavras, não anestesiam: chacoalham. ("cuiabá tem tudo meio / grama, quente e longe, / e sequer, ou se muito, / se oferece um copo d´água / sem crachá de acesso"). testoste-TRIP é, digamos, espécie de 'Desconcerto nº 1 para Flauta, Bunda-do-Guilherme e Dialética'. Esperemos ansiosamente o nº 2.Matheus Guménin Barreto- poeta, editor na Ruído Manifesto e tradutor*Não gosto das pessoas que dizem que a religiosidade torna alguém moralmente melhor, mas cometo o mesmo erro que elas: acho que as pessoas que transam bem são moralmente melhores. Transar bem éum mérito em si, mas acho que as pessoas que transam bem fazem escolhas mais altruístas, pensam mais nos outros, amam. Aprendi a olhar nos outros o mérito dos que transam bem: existe uma gentileza gratuita e satisfeita na espiritualidade dos que gozam com toda a personalidade, e não apenas com a genitália; quem transa mal não entende a tranquilidade do prazer, nem o prazer cumprido do orgasmo: é um exibicionista. Acho que a humanidade precisa de algumas revoluções, e acho que todas as revoluçõe
Avaliar produto
Preencha seus dados, avalie e clique no botão Avaliar Produto.