Nos textos reunidos em Tomara que você seja deportado: Uma viagem pela distopia americana, Jamil Chade descreve um cenário devastador sob qualquer ponto de vista, evidenciando a magnitude da decadência da sociedade estadunidense. Compreendendo o período entre a campanha eleitoral de Donald Trump e o início dos esforços eugenistas de sua política de imigração, a tragédia americana ganha aqui rosto e materialidade.Chade percorre os locais por onde se espraia o ódio e o rancor, a pobreza e a ilusão, de Manhattan ao México, do Madison Square Garden aos abrigos para deportados nas cidades mexicanas na fronteira. O que o leitor entrevê é um desastre humanitário, ético, político, espiritual. A atmosfera inequívoca de perseguição, o medo do imigrante de ser caçado. Mas também a perversidade da ofensiva trumpista no que diz respeito a outros temas, como a educação e os direitos de pessoas LGBTQIA+, outrora relevantes para a composição de um cenário, uma ordem mundial, que glorificava a nação que tomou para si o termo "América". Pelas palavras de Walter Salles, que prefacia esse livro, trata-se "não somente um extraordinário trabalho jornalístico, mas também um ensaio de grande lucidez sobre como podem sucumbir as democracias".O trabalho do jornalista, aqui, marcado também pela experiência pessoal (Chade se mudou com a família para os Estados Unidos) é revelador do esfacelamento simbólico da solidez que consagrou os Estados Unidos da América como a nação mais poderosa do mundo. Uma nação que demole a si mesma, com os golpes imprudentes de um líder autoritário.