Poucos anos após o seu surgimento, o cinema se consolidou numa de suas formas de exibição, caracterizada, em termos gerais, por ocorrer numa sala cuja arquitetura se assemelha à do teatro italiano, por envolver a projeção de uma imagem em movimento epor adotar uma narrativa influenciada não só por modificações na estrutura do romance literário, como também pelo desejo socialmente disseminado de ver outros lugares sem a necessidade de se deslocar. Suas outras formas pioneiras, em especial os panoramas e suas galerias de atrações, obscureceram-se sob a hegemonia de tal modelo estético, em torno do qual se ergueu uma poderosa indústria de entretenimento.O cinema, contudo, sempre foi experimental, ou seja, sempre foi um campo de pesquisa definido por questões formais que retomaram, nas montagens inauguradas por sua linguagem, princípios da fotografia, da pintura, do teatro e da literatura. Como tornar móvel a imagem e como enquadrá-la? Quais os modos de projetá-la? De que maneiras integrar ao que é exibido cor, som e profundidade? Que tipo de participação se espera do espectador?Ao longo dos anos, portanto, mantiveram-se ou conformaram-se linhas de investigação, cujos efeitos têm sido reelaborados pela presença de novas possibilidades tecnológicas surgidas desde o início do século XX. Cinema experimental, arte do vídeo, cinema expandido e cinema interativo agrupam importantes momentos de transformação do dispositivo cinematográfico, e suas produções, cada vez mais, espalham-se por museus, galerias de arte, universidades e, sobretudo, casas. Instalado em espaços expositivos, reproduzido em leitores domésticos, acessado na internet ou mesmo projetado nas salas tradicionais, o cinema hoje se move em inúmeros caminhos, recriando, de maneira intensa, os modos pelos quais vemos e experimentamos tanto o mundo quanto a nós mesmos.Divididos em duas partes, os 37 textos que compõem este livro - precedidos de uma introdução de Katia Maciel, que procura definir o termo transcinemas, proposto por ela para abarcar as novas situações de cinema em que superfícies híbridas de luz e movimento se conjugam com a participação e a imersão dos espectadores - representam, em suas inter-relações, um amplo e fundamental panorama doque tem sido elaborado nos últimos anos por muitos dos mais importantes teóricos e artistas ligados ao tema no Brasil e no mundo.
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