Um dos resultados imediatos dessa moral divina, e que não devo passar aqui em silêncio, seria estabelecer e vulgarizar a doutrina dos deveres, como o contrapeso e corretivo saudável da doutrina dos direitos que se ensina nas escolas superiores, e temtanta voga na política. Em verdade, eu não descubro nada mais funesto do que o ensino (teórico ou prático) da última destas duas doutrinas, sem o prévio estabelecimento da outra que lhe deve servir de base.Bem sei que para ser cristão não basta conhecer e praticar a moral do Evangelho, mas é preciso ainda acreditar nos dogmas e seguir o culto da Religião divina. Estou mesmo intimamente convencido de que os dogmas e o culto são os dois esteios sólidos e necessários da moral, e que é sobretudopela união de seus dogmas com a sua moral que o cristianismo tem gerado todos esses prodígios e maravilhas que assombram o universo. Mas tal é o mecanismo da Religião divina, que todas as suas partes se ligam e se atraem irresistivelmente, e pode-secom segurança trabalhar no aumento de uma sem que as outras sofram. Entretanto, a moral do Decálogo e do Evangelho, parece-me, em todo o caso, o prelúdio mais feliz para o ensino da fé católica, que não pode ter maiores inimigos do que a perversidadedo coração e o desregramento da vida.