Você já tentou se manter otimista durante uma catástrofe ou uma tragédia, durante operações militares sangrentas? Eu tentei e vou continuar tentando.- Andrei Kurkov, em Ucrânia - Diário de uma guerraNa madrugada de 24 de fevereiro de 2022, o escritor Andrei Kurkov foi acordado, em seu apartamento perto do centro histórico de Kyiv, com o barulho de explosões. Foram três. Uma hora mais tarde, outras duas. Eram mísseis russos, num ataque coordenado em vários pontos do país. "Foi muito difícil acreditar que a guerra tinha começado", conta ele. Daquele momento em diante, a guerra passou a determinar seu modo de vida, seu jeito de pensar, seu jeito de tomar decisões. No dia seguinte, Kurkov deixou a capital sob ataque, se enfiou nas estradas congestionadas e partiu rumo a oeste. O escritor mais célebre do país, com dezenas de livros publicados e traduzido em mais de quarenta idiomas, tornava-se assim um dos milhões de desalojados ucranianos. Dias depois, refugiado com a família no apartamento de uma senhora que não os conhecia, ele abandonou a escrita de um romance para registrar, na forma de um diário, o que estava acontecendo.A seleção de mais de dois anos desses registros está em Ucrânia - Diário de uma guerra, que a CARAMBAIA lança às vésperas do terceiro aniversário do conflito. Lançado inicialmente na Inglaterra, em dois volumes, e traduzido em diversos países, o diário de Kurkov chega ao Brasil com um epílogo escrito exclusivamente para esta edição. As ilustrações e o projeto gráfico foram encomendados para uma dupla de premiados designers ucranianos, Romana Romanyshyn e Andriy Lesiv.Ucrânia - Diário de uma guerra não é obra de um cientista político de análise sobre o conflito, tampouco um ensaio acadêmico. O livro traz uma habilidosa costura da história pessoal e familiar de Andrei Kurkov com a do próprio país. O escritor, ganhador do Prix Médicis (França), do Halldór Laxness International Literary Prize (Islândia) e finalista do International Booker Prize (Inglaterra) em 2023 e 2024, conhecido pelo tom irônico e o senso de absurdo de sua prosa de ficção, explora a complexa relação da Ucrânia com a Rússia e descreve como um povo tradicionalmente pacífico desafiou o invasor com uma resistência que surpreendeu a comunidade internacional. Partindo do princípio de que boa parte da população estrangeira tem dificuldade até para situar a Ucrânia no mapa, Kurkov cria um texto em que se aproveita de fatos do cotidiano da guerra para contar detalhes da histór