Uma humilde cela do seminário de Caen ouviu muitas vezes a tosse angustiada do ancião padre Eudes, meses antes de morrer.O santo trabalhava ansiosamente, minuto após minuto, temendo não concluir sua obra. O pulso tremendo e caduco da mão branquíssima ia escrevendo as últimas páginas de seu impressionante livro "O Coração da Mãe Admirável". Padre Eudes experimentava o misterioso martírio de um artista encarregado de erguer sozinho uma catedral grande suficiente para exigir o trabalho e a energiade um povo inteiro. Porque era uma assombrosa basílica a que edificava com sua pena em honra ao Coração de Maria e ao de Jesus.Alguns anos antes, na isolada Port-Royal, Blaise Pascal, angustiado, escrevia suas cartas com o receio de falecer sem terminá-las. Duas atitudes aparentemente análogas, ainda que fundamentalmente distintas, nascidas nos dois corações mais eminentes da França do XVII.No santo da Normandia era a ânsia de um filho fiel que almeja finalizar a tarefa de amor antes de chegar ao Pai dos dons, no solitário de Port-Royal, nascia do temor do Juiz eterno... Contudo ambas as atitudes eram dignas da grandeza da França que se achava no século de seu apogeu.O livro que o padre Eudes, impondo-se sobre sua fraqueza e suas doenças, escrevia tinha sido iniciado anos antes.Era constituído de doze partes, em que tratava profundamente da devoção ao dulcíssimo Coração de Maria, e seria a mais renomada de suas obras.