A amizade é um dos sentimentos mais nobres do ser humano. A palavra evoca simpatia, aproximação, trato e, aos poucos, confidência, sintonia de pontos de vista e de preferências, disposição de servir sem outra paga que a alegria de servir: a amizade não é interesseira. A tal ponto se trata de um valor, que o próprio Deus, que de nada precisa, quis "precisar" da amizade do ser humano, e por isso o criou: "As minhas delícias", disse, "são estar com os filhos dos homens, mais do que com os serafins". E esse é também um dos motivos pelos quais o Verbo divino se fez carne em Jesus Cristo e quis ter um coração humano, que pudesse bater em uníssono com o nosso. A partir desse momento, também o homem não percorreria o seu caminho rumo a Deus - que essa é a definição autêntica de toda a vida humana - como quem se submete contrafeito a uns regulamentos, mas buscando e experimentando a luz, o calor e a plena sintonia com Aquele que um dia chamaria amigos aos seus discípulos. Este é o ângulo em que o autor desta obra-prima, de corte clássico, se coloca para nos desvendar o segredo da relação do homem com Deus. Metodicamente, Robert Hugh Benson, clérigo anglicano convertido ao catolicismo e ordenado sacerdote da Igreja Católica, vai descrevendo as fases desse processo de amizade com Deus, desde a descoberta de Cristo no interior da alma, que leva primeiro ao despojamento do amor-próprio e, a seguir, à experiência sem fim da constante presença de Deus dentro de nós, até a descoberta de Cristo no exterior, que se projeta em riquíssimas realidades como são a Igreja, os sacerdotes, os sacramentos (especial mente o da Eucaristia), o homem comum e até mesmo o pecador. São manifestações diversas, essencialmente distintas entre si, mas nas quais é o próprio Cristo, o Amigo, que se oferece à nossa amizade, facilitando, robustecendo e multiplicando a sua amável presença.