Palestina: uma questão que deita suas raízes em tempos tão remotos, se configura em fios e meandros tão intrincados e explode em nossas telas com uma força tremendamente reveladora. Uma trajetória plural, em que se alternam inventos de mando e de rebeldia, convívios entre culturas e intentos de supressão do diferente, extermínios e renascimentos. A aproximação aos horrores do presente não dispensa - pelo contrário, exige - considerar esta larga história de bem mais de três mil anos, atravessadatoda ela, em cada uma de suas reentrâncias, da presença avassaladora do divino de muitas faces e nomes, permanentemente imprecados. Que o Hamas e outros grupos da resistência palestina invoquem Allah e se ponham na linha de frente de defesa de Al-Aqsa: nada mais previsível diante da secular agressão sionista, que assenta seus pleitos nefastos, expansionistas e coloniais em promessas que declara - com ou sem disfarces - serem de IHWH/Javé e, portanto, irrevogáveis. Ao escavar estas camadas, na diacronia, Pedro Lima Vasconcellos revela como esta "nervura religiosa" articula a disputa, nos termos terríveis em que ela vem sendo travada.