Desde sempre, a sisudez do discurso jurídico é realçada publicamente, sobretudo porque exige dos profissionais do Direito uma carga de isenção patética hercúlea no exercício da profissão. Muitos creem, por tradição, que no universo jurídico a racionalidade deve frequentemente ser exaltada como o único caminho legítimo para a conquista da verdade a todo custo e para que se promova efetivamente a "justiça". Na contramão desse pensamento milenar, Acir de Matos Gomes desafia o paradigma tradicionaldo Direito ao revelar o silenciamento histórico do pathos sob o manto da lógica formal. Há um ser humano sob a toga e, por isso, sujeito aos efeitos das paixões e das emoções cotidianas, embora, por profissão, não possa revelá-la em plenitude. É, porém, impossível separar o homem de suas impressões patéticas sobre o mundo, ainda que muito esforço seja empreendido para escondê-las no ato de julgar.Com olhar aguçado de advogado, linguista e educador, Matos Gomes propõe, com brilhantismo, uma nova lente de análise: a racionalidade lógico-afetiva. Ao integrar, em seus estudos aprofundados, razão e emoção, lógica e linguagem, demonstra que o discurso judicial não é - nem pode ser - puramente técnico. Há, sim, uma matemática das paixões, uma equação que permite admitir que logos, ethos e pathos se entrelaçam para revelar argumentos mais humanos, legítimos e eficazes.Este livro é um convite à reflexão crítica sobre o papel da afetividade no discurso jurídico e literário. É uma provocaçãonecessária para todos que acreditam que justiça não pode ser feita também de forma plenamente humanizada e sensível. É um estudo sério e competente sobre racionalidade e afetividade como um corpo indissociável no universo jurídico. Vai dar o que falar e, por isso, merece leitura atenta e crítica.