A relação entre voz e linguagem raramente aparece como tema na história da filosofia. Buscando preencher essa lacuna, o filósofo italiano Giorgio Agamben analisa o processo pelo qual a voz, enquanto fenômeno sonoro, se transforma em linguagem articulada e significativa.Agamben mostra que, na Antiguidade, os gramáticos começavam seu tratamento da linguagem a partir da voz, distinguindo cuidadosamente a voz confusa dos animais - "o relincho dos cavalos, o uivo estridente dos cães, o rugido das feras e o sibilar das serpentes" - da voz "articulada" dos seres humanos. Desse modo, a antropogênese, o tornar-se humano do vivente, coincide com o acontecimento da voz, que a torna significativa e transforma o elemento expressivo do animal em instrumento de dominação e conhecimento. Mas o que é uma voz articulada?Por meio de uma paciente investigação arqueológica, discutindo passagens de Aristóteles, Émile Benveniste e Jacques Derrida, o livro reconstrói o sentido e as modalidades dessa "articulação" da voz, questionando a função que a invenção da escrita teria desempenhado nela. Ao analisar a relação entre voz e linguagem, Agamben também questiona a relação entre som e sentido, entre o chamar e o significar. A voz passa a ser compreendida não apenas como meio da linguagem, mas como a própria condição originária da linguagem, o que desafia a tradição ocidental que sempre subordinou a fala à escrita.O autor comprova que pensar sobre a voz significa pensar sobre o limiar em que a natureza humana se constitui, sobre a decisão política a respeito daquilo que é e daquilo que não é humano.A edição ainda conta com um posfácio de Cláudio Oliveira, tradutor do livro, que situa a importância de A voz humana no percurso da obra de Agamben.