Para além do objeto-coisa, existe o objeto-passaporte. Uma bengala, além de ser uma madeira envernizada, é um mobile de memórias, reminiscências, imersões, cintilações. Apesar de sua suposta banalidade, o objeto pode se converter num potente instrumento de ressentir o mundo. Diariamente nos deparamos com uma série de narrativas que emanam das Coisas. Aparentemente o mundo dos objetos é um mundo, mudo mas, nas suas cifradas potencialidades auráticas, as Coisas conversam eloquentemente com seu observador. Reduzir os objetos unicamente às suas funcionalidades seria um erro fenomenológico. O estar diante de uma Coisa é também um ir-além-coisa, pois somos jogados a um inventário memorialístico de um passado ficcionalizado por labirintos intimistas e confessionais. Ao mirarmos o objeto, somos ejetados a uma viagem em todas as direções. E aqui estamos num feliz deslocamento narrativo de recreação e recriação: um Acervo Literário é um acervo coisas e um acervo de coisas é um acervo de ficções.Do encontro entre 20 escritoras e escritores com 10 objetos pertencentes ao Delfos/PUCRS - Espaço de Documentação e Memória Cultural surgiu o livro que agora você tem em mãos. De uma carteira profissional de músico a uma lança, de um chapéu a um divã, as coisas deixam suas caixas e prateleiras e dão início a narrativas, compondo este acervo outro: um acervo de ficções.