Neste livro de ensaios, a linguista argentina vencedora do prêmio de não ficção Latinoamérica Independiente 2024, Marina Berri, percorre o alfabeto russo enquanto aprende o idioma e reflete sobre literatura, cinema, desenhos animados, publicidade, arquitetura, etimologia e outros elementos culturais. Diante do primeiro contato com palavras russas, a novidade desperta o frescor dos raciocínios inéditos, exalta o espanto da descoberta, elabora conexões sinestésicas já tão impossíveis de se enxergar no cotidiano da língua materna.O livro é como um ovo Fabergé - as matrioskas seriam óbvias demais para o olhar aguçado de Berri -, e cada ensaio, a miniatura de um aspecto ou de uma época, seja ela tsarista, soviética ou contemporânea. Alfabeto russo é uma autêntica viagem, e não só para o país dos grandes autores clássicos como Gógol, Dostoiévski, Tolstói e Nabokov. Há uma jornada no tempo quando somos catapultados para as cenas do cerco de Leningrado, ou para as filas longuíssimas da União Soviética. Um percurso de trem que permite observar a estepe, ou de foguete ao espaço junto a Iuri Gagárin. Uma viagem pela magia dos contos de fadas, por referências que nem sempre são muito conhecidas, como se navegássemos encobertos por uma tempestade de neve - há uma miríade de palavras do idioma para descrever o fenômeno.Assim, em um mundo de tensões globais e em uma conjuntura política que distancia o mundo ocidental da Rússia, este livro nos afasta de clichês históricos e nos contamina de interesse. Alfabeto russo é um lembrete de que a linguagem e a tradução importam na mediação das diferenças, ampliando as fronteiras geográficas e do gênero de não ficção. Ou, como afirma Paulo Roberto Pires no texto de orelha da edição, é "ensaísmo do melhor, unindo inquietação intelectual, ousadia formal e liberdade especulativa".