Com textos das curadoras Diana Campbell e Diane Lima, o livro Antonio Obá reúne pinturas, objetos e performances criados pelo artista que vive e trabalha em Brasília. A arte de Obá investiga as contradições na construção do Brasil, refletindo sobre a ideia de uma identidade nacional a partir do tensionamento da memória racial, histórica e política do país. Perturbando arquétipos e padrões impostos pela sociedade, suas obras tiram o corpo negro de um lugar de vergonha e exploração para, em suas próprias palavras, "recuperar, reconfigurar e narrar imagens que podem resgatar a dignidade de um corpo que foi historicamente negado, marginalizado, comercializado, distorcido e apagado."Assim, nascida do corpo, a arte de Antonio Obá posiciona sua prática no contexto da performance ritual, da crítica a' violência racial e no centro do vasto repertório cultural-religioso que habita o território brasileiro. Uma de suas pinturas, Dança dos meninos (2021), inspirada por um videoclipe de Milton Nascimento, carrega o vermelho da terra de Minas Gerais - marcada pela opressão nas relações trabalhistas, religiosas e raciais - conforme as figuras de oito jovens negros criam um novo significado a partir do passado, através de uma dança de liberdade. O Brasil está na essência inclusive de criações como Wade in the Water II (2020), o artista faz uma referência à figura imortalizada de George Floyd. que, assumindo poderes de Iemanjá - orixá que, na religião do candomblé, domina as águas -, caminha, destemido, sobre o mar que se abre, em direção ao espectador. Como escreve a curadora americana Diana Campbell, a arte de Antonio Obá, "subvertendo e manipulando a história como forma de transcender e transfigurar a partir da dor do passado", atrai "nosso desejo coletivo por um futuro mais igual, amoroso e justo". O poder artístico de sua obra vem da construção da "narrativa de um corpo negro que transcende o sofrimento e retorna às suas origens nobres munido de todas as lições adquiridas ao longo de gerações de sacrifícios e lutas dos movimentos de solidariedade". Trechos:"A relação entre religião e corpo aparece na prática de Obá principalmente no que diz respeito à opressão e à restrição da liberdade. Ser católico é uma parte forte da identidade do artista, que até quis ser padre antes de dedicar sua vida ao caminho da arte. A arte é um lugar onde Obá pode permanecer católico, mas escapar das regras e injustiças da religião organizada, alcançando um plano superior