"Foi o Inquérito Civil Público (protocolado pelo Instituto João Goulart), que apurou as circunstâncias da morte de meu avô, que me despertou para uma responsabilidade da qual eu não poderia fugir. Até porque esse Inquérito se confundia com as minhas origens. Entender a vida e a morte de meu avô, as razões políticas que o levaram a morrer provavelmente assassinado no exílio, era para mim uma forma de descobrir o meu lugar na sequência cronológica dessa história."Chegou a hora de colocar no papel o uso da minha autocrítica notória ao extremo e da minha sinceridade. Tudo isso muito além das gentis e amorosas palavras que recebo de minha família e de meus amigos e amigas, que, confesso, são poucos. Existe uma realidade paralela mais perversa, fora do nosso quintal. Aproveito aqui essa sinceridade para afirmar que a minha jornada biográfica está longe de uma autopromoção. Sinto a necessidade e a razão de dizer e registrar quem sou, no momento em que isso precisa ser feito para o resto dos meus passos na própria estrada aberta à minha frente. A minha história é uma história humana em tudo o que isso seja capaz de dizer. Não vejo argumento melhor para convidar o leitor a embarcar para vivê-la na sua própria leitura. Talvez este livro seja o motivo pelo qual eu mesmo tenha nascido.Sinto-me livre para descrever o que vem adiante. Pensando melhor, este livro poderia ser também intitulado "terra de fugitivo". Tenho muita identificação com um pensamento do poeta, dramaturgo e crítico literário Thomas Stearns Eliot: "Numa terra de fugitivos, aquele que anda na direção contrária parece estar fugindo."