O ensino médio é uma etapa da educação básica relegada ao segundo plano no Brasil. Esquecemos que é nele em que se consolidam aspectos fundamentais da formação básica cidadã. Seu caráter duplo ainda o tira do foco, pois ou ele tem assumido características da terminalidade de estudos ou, propedêutico, perde-se no viés preparatório para o ensino superior. Ao mesmo tempo, as muitas mudanças promovidas nos últimos anos tiram ainda mais sua identidade em que todos seus atores se sentem deslocados, ou perdidos. Este livro propõe-se a discutir essa identidade pedagógica do ensino médio, a encontrar os fundamentos que fazem dele essencial na formação humana, com o aprofundamento necessário para a consolidação de um currículo que se paute no encontro entre a ciência e a formulação de novos saberes advindos da problematização do cotidiano. Proveniente de uma pesquisa, o estudo que se apresenta busca o olhar dos professores, seus discursos e como eles se fundamentam na realidade da escola. Além disso, encadeia caminhos que podem trazer novas perspectivas a partir de um currículo desenhado desde os PCNEM até a BNCC, para construir propostas que podem dialogar com inúmeras possibilidades que partem dos saberes dos professores até se encontrarem aos dos estudantes do ensino médio. As possibilidades abrem inúmeras portas e encontros possíveis, em que a chave é um processo de envolvimento ou de vínculo entre saberes historicamente consolidados com outros que questionam, próprios da juventude que frequenta esse nível de ensino. Encontrar o equilíbrio necessário para fazê-lo avançar como espaço de ampliação desses saberes que se encontram na sala de aula, com a finalidade de chegarmos a uma cogovernação é não só um objetivo, mas também a fundação de uma outra gramática social ao ensino médio, para que participação direta de todos os atores envolvidos na escola de ensino médio possa ser uma realidade, em especial nos espaços que mais dependem de seu bom funcionamento: as escolas periféricas, retratadas neste livro pela escola Angelópolis. Assim, se não criarmos uma escuta atenta aos jovens, jamais criaremos condições para que o atual momento seja superado.