A história é tão absurda quanto plausível: cento e onze meninas menores de idade são levadas a julgamento pelo assassinato brutal de um homem comum. Elas nada dizem. Não se defendem. Não imploram. Apenas permanecem - presentes, caladas, incômodas. E, nesse silêncio coletivo, a autora constrói o mais eloquente dos gritos.S. Ganeff não espera autorização para narrar o que precisa ser dito, sua inquietação ultrapassa os limites da dogmática jurídica. Sua ficção desafia os limites da verossimilhança e denuncia com elegância a teatralização do Judiciário, a negligência institucional e a violência silenciosa sofrida por quem nunca teve voz.Cada página de Entrelinhas provoca, cada silêncio acusa, cada detalhe escancara a falência dos sistemas que juramos justos. É um livro que não se lê - se enfrenta. Uma obra que exige do leitor coragem para ocupar o lugar do júri, não apenas como espectador, mas como parte viva do julgamento. Ao fim da leitura, talvez você não saiba de que lado ficar - mas certamente não sairá ileso.Porque há livros que se leem.E há livros que nos leem de volta.- THIAGO ROMERO -