O livro "Humanismo de mercado: etnografia de uma prisão privatizada", de Aline Passos, abre a Coleção Abolicionistas. Com essa coleção, a IK pretende trazer ao debate público a produção intelectual sobre as práticas e teorias abolicionistas feitas por ativistas e acadêmicos nas mais diversas experiências em todo o Brasil. Em "Humanismo de mercado", Aline Passos retrata as estratégias de gestão de uma prisão privatizada no nordeste brasileiro. A partir de pesquisa etnográfica realizada dentroe fora da unidade prisional, a análise escapa do lugar comum dos indicadores de gestão que buscam estabelecer qual o melhor modelo de gerenciamento carcerário, e apresenta como Estado e mercado operam modulações de dominação que se beneficiam reciprocamente. Desta forma, o livro transita por discursos e práticas de privatização das prisões que, pouco a pouco, deslocam o problema do gerenciamento de condições ambientais - higiene, lotação, segurança - para a própria existência e permanência da prisão como prática de tortura institucionalizada e socialmente aceita. No que se poderia pensar como modelos distintos e opostos de encarceramento - públicos ou privados - a autora encontra mais complementariedade, retroalimentação, compensações mútuas, e a permanência de uma condição de desumanização dos sujeitos presos que precede e se sobrepõe aos meandros da administração da tortura porque é sua própria condição de existência. Como bem diz Amós Caldeira, na quarta capa do livro, "Aline Passos atravessa muros físicos e ideológicos para demonstrar o que deveria ser óbvio: uma prisão é uma prisão." A autora "alia rigor teórico-metodológico a um compromisso político abolicionista para responder: e se humanizarmos os presos, há prisão possível? Uma prisão é uma prisão, que esta obra contribua para a destruição de todas."