Em Modernidade e discurso econômico, Leda Paulani, professora de economia da USP, dedica-se a um ofício cada dia mais raro na sua área de estudo: analisar as raízes filosóficas e ideológicas das ideias e dos discursos na economia. Em um mundo onde a política econômica é tratada como engrenagem mecânica ''''sem opção'''', pairando como ciência pura e inquestionável, acima e mandando na política e seus partidos, Leda recupera o debate sobre os fundamentos teóricos da economia política, o contexto social e as ideias filosóficas que influenciam as correntes econômicas. Uma questão que se relaciona com os embates e discussões cotidianas sobre os rumos do Estado, do país e as ''''receitas'''' prognosticadas pelos economistas ortodoxos, os maiores defensores da ''''pureza'''' da ciência econômica. Leda analisa os autores e o ambiente político que influenciam esta ciência: ''''...a história das ideias não se determina por si mesma; a produção das ideias determina-se inescapavelmente pelo lugar histórico de sua germinação, pelas circunstâncias temporais e pelas contingências locais da vida material onde são geradas, donde sua inevitável transformação ideológica quando deslocadas de seu lugar de origem'''', explica a autora na introdução do livro. A partir deste princípio, Leda discorre sobre a obra e a influência da evolução das ideias modernas e pós-modernas, com suas contradições entre indivíduo e sociedade, partindo desde Hegel, até desaguar no neoclassicismo do discurso econômico ortodoxo, passando pelas suas bases no utilitarismo de Jeremy Bentham, nas ideias de Adam Smith, John Stuart Mill e Hayek. O livro traz ainda uma profunda análise das limitações do trabalho de Donald Mcloskey sobre a retórica no discurso econômico, recebido com entusiasmo por muitos críticos do neoliberalismo, mas que é extremamente crítico da modernidade e não propõe uma alternativa ao pensamento único. No último capítulo, a partir das análises de Karl Marx e Guy Debord, Leda retoma a importância da crítica da economia política e do ideário da modernidade, de não se perder de vista seu significado em termos de projeto de emancipação, muito diferente da visão neoliberal que trata as relações sociais, e dentre elas a economia, como um fenômeno ''''natural'''', como se fosse natural e inevitável a crescente desigualdade, pobreza e outras ''''maravilhas contemporâneas'''' do capitalismo. É contra os cinismos da ''''falta de opção'''' ou dos que tudo relativizam como mera e inconsequente r