Livro vencedor do Prêmio Literário José Saramago 2024 Uma obra que se debruça, com rara delicadeza, sobre a lenta erosão do corpo, da memória e dos afetos Na cadeira de balanço, entre o ranger da madeira e o tique-taque implacável do relógio, António assiste aos dias se acumularem como poeira - enquanto zela pelo corpo da esposa sem vida como se ela ainda respirasse. Dentro do pequeno apartamento onde viveram por vinte e cinco anos, cada gesto cotidiano - limpar, alimentar, cuidar - transforma-se em ritual de negação e lembrança, enquanto lá fora a vida pulsa com a vulgaridade e o barulho de uma rua próxima ao porto.O autor português Francisco Mota Saraiva constrói um mosaico pungente de solidão, cumplicidade e amor em decomposição. Entre os cheiros fortes, os sons abafados e a vizinhança decadente, emerge uma prosa que é, ao mesmo tempo, brutal e terna - um retrato implacável do que resta quando tudo o que se tem é o que se foi.Morramos ao menos no porto é um convite para acompanhar a passagem do tempo quando o tempo já não consola - um romance que ecoa muito depois de virar a última página.