Com o fim do regime civil-militar brasileiro é possível observar como a(s) memória(s) vai(ão) se constituindo como campo de luta e mecanismo para reivindicar reparações aos ofendidos e agredidos; processo que não teve início agora, que esteve sempre vivo durante aqueles "anos sombrios", na luta contra a censura, a perseguição, a tortura e a morte. Hoje, os testemunhos dos que resistiram emergem para retomar o direito à palavra e à ocupação dos espaços públicos, contribuindo para a chamada "justiça de transição", em movimentos para romper com os silêncios que encerraram em espaços íntimos as lembranças e as dores mais traumáticas daquele passado que não passou. É desse inacabamento do passado que este livro trata. Os textos aqui reunidos são frutos do trabalho de diferentes pesquisadores, preocupados em entender as diversas narrativas e memórias, elaboradas por aqueles que deram suporte e legitimaram o regime autoritário no Brasil, assim como por quem resistiu e lutou contra seus discursos estigmatizantes e suas ações violentas, no compromisso e dever de lembrar para entender o que nos tornamos. É consenso entre os diferentes autores que falar deste "tempo sombrio" é, ainda, pensar sobre feridas abertas, traumas e narrativas que se pretendem verdades, seja como legitimação, seja como denúncia.