Talvez você não consiga ler o idioma da memória. Talvez. Eu não consegui: conforme virava as páginas, as letras foram ficando distantes, menores, embaçadas. E sumiram. Surgiram então lugares onde não estive, casas nas quais nunca entrei, paisagens de porcelana. Senti o frescor da floresta, o aroma do manacá, da laranja, a doçura da cana na moenda. Provei quitutes de vó, senti o sol aquecendo conversas no terraço, a textura do barro nas mãos, a cintura do violão. E ouvi o som de suas cordas, do beijo do fogo na madeira, do silêncio no jogo de truco, da matraca do tio do biju. Do Uirapuru. O mundo que Márcio Ketner Sguassábia nos oferece em o idioma da memória é doce e bonito. Nele não há pressa e cada detalhe importa. À sua maneira, ele nos protege da velocidade desses dias frenéticos - mas sem sufocar. Como nos ensina a cerca de bambu. Paulo Camossa Júnior