Há um aforismo que freqüenta a filosofia ocidental desde o início: o de Heráclito, que afirma que "a Natureza ama ocultar-se".Ao longo dos últimos vinte e cinco séculos, essas palavras sucessivamente significaram: que a Natureza se esconde em formas sensíveis e nos mitos; que ela esconde em si forças ocultas; mas também que o Ser está originalmente num estado de contração e de não-desdobramento; ou ainda que ele se desvela velando-se. Esse aforismo serviu para explicar as dificuldades da ciência da natureza, para justificar a exegese alegórica dos textos bíblicos ou para defender o paganismo, para criticar a violência contra a natureza operada pela técnica e pela mecanização do mundo, enfim, para explicar a angústia que provoca no homem moderno o seu ser-no-mundo.A mesma fórmula, ilustrada pela imagem do véu de Ísis e desvelada por Pierre Hadot na história do Ocidente, justificou tanto a atitude prometéica - o homem deve se tornar senhor e possuidor da Natureza - como a atitude órfica - ninguém pode tirar o véu dos mistérios da natureza, a não ser o poeta e o artista. Essa fórmula não deixará de traçar perspectivas novas sobre a realidade e de revelar as mais diferentes atitudes com relação à Natureza.