"Jair Bolsonaro foi, durante os últimos meses, dentre os poucos chefes de Estado no mundo a negar os perigos da pandemia do coronavírus, o mais ousado e irresponsável. Todo dia o esforço de resguardar a população foi sabotado pelo chefe da nação. Dificuldades burocráticas foram criadas artificialmente para impedir que a ajuda chegasse aos mais necessitados e o presidente jogava tudo no caos e no conflito. A pandemia foi relegada a um lugar secundário em relação à sobrevivência política do clã envolvido até o pescoço em todo tipo de suspeita, desde falcatruas variadas até assassinatos. Com sua patológica falta de empatia humana, Bolsonaro dizia que quem iria morrer, iria morrer de qualquer jeito mesmo, se referindo a idosos e pessoas com doenças crônicas, e que a morte de alguns milhares não poderia parar a economia.No entanto, o que mais chama atenção é o fato de que, embora sua popularidade tenha declinado nas hostes da classe média mais esclarecida, como mostram pesquisas e os "panelaços" nos bairros mais ricos, sua popularidade na população como um todo, continuou inabalável. Bolsonaro manteve sólido apoio de cerca de 25% a 30% do eleitorado, durante toda a epidemia. Como explicar isso tudo?As questões que agora passam a importar para o bolsonarismo são desafios completamente novos: como manter uma expropriação ilimitada rentista e neoliberal em um contexto de sufrágio universal? Quais os limites do discurso do ódio que não dá, materialmente, nada em troca? Como mantero apoio da elite para um programa de renda básica amplo? Em muito breve saberemos."Jessé Souza