O pânico instala-se quando se revela subitamente ao sujeito aquilo que para este é insuportável: a constatação de que o desamparo é o destino último - e o ponto de partida - de tudo o que sustenta a linguagem. A cura psicanalítica, por sua vez, supõe que o sujeito possa tolerar esse fundo de desamparo (Hilflosigkeit) e fazer dele não um foco sintomático de desespero, mas uma fonte de criatividade e de autoengendramento poético. Nessa perspectiva, a Hilflosigkeit constitui, paradoxalmente, a única garantia do "pouco de liberdade" de que o sujeito dispõe para sustentar o inesgotável de seu desejo.