A aquarela que ilustra a capa deste livro, pintada por AugustoBallerini, é fruto de uma expedição científica pelo Alto Paranádirigida pelo botânico alemão Gustavo Niederlein, realizada em1892 como intuito de colher amostras dos produtos naturais eindustriaismais representativOs, valiosos ou curiosos dessa geografia. A função deBallerini consistia em transformar as impressões e espessuras do mundovisível em rascunhos, desenhos e pinturas. Imagens da viagem, captadasen plein air, que pudessem perdurar para ser observadas por outrosespectadores, em outras latitudes. Essas imagens, e essas itineráncias pelasprofundezas mesopotâmicas da nação, permanecem navegando ao longodestas páginas. São (seguindo com a metáfora) passageiros constantes, masnem sempre os principais, neste percurso. Porque este, como veremos, nãoé um livro sobre Augusto Ballerini. E sobre a região que o pintor visitaranaquela expedição de 1892. Ou, de fato, não é só acerca daquela exataparcela do mundo, massobre um espaço ainda mais extenso, de incertasfronteiras, atravessado por grandes cursos de água doce, situado nosinteriores da América do Sul. E também sobre as travessias, expedições eOcupaçöes que ali aconteceram até os começos do século XX,e os modosanteriores de habitar, explorar, dotar de significações e representar essesvastos territórios e seus habitantes. O foco deste livro aponta, então, emdireção a um topônimo que, em forma algo excessiva, inexata e claramenteanacrônica, alude a uma região que poderíamos ainda denominar assim:Paraquaria.