Platão não era um entusiasta da democracia ateniense, e isso fica claro em diversos pontos de sua obra. Entretanto, sua crítica à democracia não faz dele um oligarca ou um defensor da aristocracia tradicional. Da mesma forma, a compreensão da visão platônica sobre a escravidão, a colonização, o poder e a sociedade de seu tempo merecem uma análise mais aprofundada e contextualizada, que Carlos Carvalhar apresenta na obra Política em Platão, com reflexões contemporâneas sobre temas antigos. Assim,a discussão antiga é posta à luz de nossa época histórica, não fugindo de temas polêmicos e espinhosos e aguçando a nossa curiosidade.O livro nasceu da tese de doutorado em Filosofia do autor e passou por adaptações, revisões e aprimoramentos paracontemplar os interesses de um público que se interessa pela obra de Platão, mas não necessariamente é especializado em Filosofia Antiga. Como explica Carvalhar, o grande diferencial teórico deste trabalho é a contextualização histórica realizada aoabordar a Filosofia Política de Platão, pois é essa atitude que garante compreendê-lo dentro dos limites de seu tempo, destacando a experiência compartilhada com outros pensadores gregos do período clássico e nos ajudando a compreender o ambiente conturbado no qual as premissas platônicas e os comentários sobre elas se materializaram no decorrer da História da Filosofia.Ao longo de toda a análise, Carlos Carvalhar mantém uma atenção constante em relação às ideologias do séc. XX, pois elas marcaram a disputa exegética sobre os argumentos do Platão político. Ao agir assim, o autor quer evitar a armadilha de uma leitura que se pretende neutra e apolítica para a qual uma perspectiva textualista tenderia. Em suma, trata-se de um livro da áreade Filosofia Antiga, mas consciente da influência contemporânea e que dialoga com as nossas próprias questões políticas.