Em seu segundo livro, Édipo Ferreira constrói uma obra marcada pela fragmentação e pela continuidade. Ponta d'areia é um poema-livro que se organiza em partes numeradas, mas não hierárquicas, em que cada fragmento carrega sentido próprio ao mesmo tempo em que participa de um corpo maior. Esse recurso não é mero artifício formal: responde à impossibilidade de representar, de modo contínuo e totalizante, a experiência da travessia e as múltiplas violências que ela carrega. O livro se apresenta como um jogo de montagem e desmontagem - um quebra-cabeça de vozes e corpos que se recombinam. Nesse processo, a fabulação crítica surge como eixo central, apostando na reinscrição de ausências, na escuta dos apagamentos e na potência estética como forma de tornar visível o que foi deixado de fora nesse percurso.