Quando Rachel Carson publicou Primavera Silenciosa (Silent Spring, no original) em 1962, sua voz transformou-se num alerta capaz de mover governos, comunidades e Ciência. Hoje, em um momento em que os debates sobre clima e preservação ambiental ocupam o centro das agendas públicas, a Editora Gaia lança uma nova edição desta obra tão necessária.O livro apresenta um corpo de ideias e informações que já mudou o curso da história: alertou para a bioacumulação de pesticidas, ajudou a desencadear a proibição do DDT nos Estados Unidos e manteve acesso público ao debate sobre riscos, ciência e política ambiental.A edição da Gaia reúne apêndices e notas que ajudam o leitor contemporâneo a contextualizar dados e políticas. É enriquecida ainda com: introdução de Linda Lear, que recapitula a trajetória de Carson - da bióloga marinha à autora perseguida por campanhas massivas da indústria química, ao legado que ajudou a difundir a consciência ambiental -; o posfácio de Edward O. Wilson retoma a importância de Carson para pensar a relação entre sociedade e biodiversidade. Já a tradução é de Claudia Sant'Anna Martins.Carson não era só uma cientista que escreveu; foi uma narradora que traduziu complexos processos ecológicos em imagens que o leitor comum podia entender. A metáfora, escrita há mais de seis décadas, hoje reverbera em novos contornos: as cidades que enfrentam eventos climáticos extremos; discussões sobre modos de produção agrícolas, ocupação do solo entre vários outros. A questão levantada em Primavera silenciosa é mais urgente do que nunca: até que ponto a tecnologia, sem freios morais e controles públicos, pode minar as próprias bases da vida?Além do acervo de citações e evidências científicas que abasteceram o debate público na década de 1960, a obra é um manual de vigilância cívica: Carson defendia o "direito do cidadão de estar protegido em seu lar contra a intrusão de venenos aplicados por outras pessoas" - um princípio que, em pleno século XXI, dialoga com os direitos ambientais, a justiça climática e o princípio da precaução.Primavera silenciosa é leitura essencial para entender o colapso ambiental e as escolhas de futuro. A urgência climática exige memória, ciência acessível e ação coletiva. Carson nos provoca: a primavera pode continuar acontecendo, desde que façamos a escolha de proteger, preservar e agir.