O trabalho de Felipe Oliveira Campos, também conhecido entre os manos e manas do ABC Paulista como Choco, é um estudo que transcende o campo meramente artístico - e se quisermos, do Hip Hop - para apresentar uma discussão sofisticada e rigorosa sobre algumas importantes transformações urbanas ocorridas nas últimas décadas no Brasil. Ao investigar o fenômeno da emergência das batalhas de MCs, a partir da observação etnográfica da Batalha da Matrix, no município de São Bernardo do Campo - SP, o Mestre de Cerimônia (MC) - mas também em Estudos Culturais pela Escola de Artes e Ciências e Humanidades da USP - Felipe Oliveira Campos constata a existência de uma nova estética na cena do Rap que recoloca o debate sobre sua natureza e função. Afinal de contas, o rap é cultura ou é política? Quem acompanha esse gênero musical sabe que ele emerge nos EUA no contexto do Hip Hop, na década de 1970 e chega ao Brasil na década seguinte a partir dos bailes black já existentes. Não demorou muito para os ambientes de festa, ao qual emergiu, se reconfigurar em espaços de denúncia contra o racismo, a violência policial e a pobreza que afetava os guetos estadunidenses e as favelas brasileiras. Das Townships sul-africanas às barricadas palestinas, das banlieusard francesas às ocupações argentinas, das quebradas de Diadema ao fundão da Ceilândia, o rap se converteu, entre a década de 1990 e 2000 em uma das mais importantes formas de protesto e mobilização política periférica. Diante deste fato, uma quantidade importante de estudos vem sendo escritos para problematizar a função social, política e educativa do rap e do Hip Hop. Uma das grandes contribuições do presente estudo, no entanto, é a constatação de uma importante alteração nesse cenário. Transformações na dinâmica urbana e no padrão de consumo nas periferias, associadas às novas possibilidades de produção, circulação e consumo da música rap, mas também de outros gêneros discriminados, como o funk, resultarão, por um lado, em uma perca de hegemonia do rap politizado nas periferias e do outro, na emergência de novas formas de expressão do gênero. É nesse contexto que mano Felipe Campos, ou o mestre Choco, encontra nas batalhas de MCs, mas também no rico universo que as envolve, não apenas uma nova forma de organizar e significar o gênero rap, a partir do que nomeia "estética da superação empreendedora", mas, sobretudo, a expressão de um novo Brasil, ainda não devidamente problematizado pelas ciências sociais contemporânea