Nesta obra de grande força poética, o filósofo Dénètem Touam Bona propõe uma reflexão sobre as formas de vida e resistência que escapam à lógica ocidental-colonial de dominação, classificação e controle. Tomando a figura do cipó - planta trepadeira, flexível, que cresce de maneira desordenada, sem hierarquias -, o autor desenvolve o conceito de cosmopoética da fuga, inspirada em saberes indígenas, afrodescendentes e da floresta e na dança. O cipó, fio condutor que entrelaça os quinze ensaios do livro, não apenas por sua presença biológica, mas por seu caráter simbólico, encarna um modo de pensar que serpenteia, se camufla, contorna e resiste. Ele representa um pensamento errante, desviante, que se recusa a ser domesticado. Édouard Glissant, Joseph Conrad, Frantz Fanon, Nastassja Martin, Fernand Deligny, Tim Ingold são algumas das referências que alimentam o emaranhado do livro, e em especial a presença de Davi Kopenawa, Ailton Krenak e Euclides da Cunha mostra a forte conexão do autor com o Brasil. Entre críticas ao imaginário colonial e uma escuta atenta às formas de vida que insistem em permanecer livres, Sabedoria dos cipós convida à reinvenção do olhar: em vez de domar o mundo, é necessário aprender a habitá-lo com sensibilidade, desvio e cumplicidade - como quem segue, com o corpo e com o espírito, os caminhos imprevisíveis do cipó.