Não é todo dia que se reúnem num sítio quase oitocentos jovens, prontos para debater o futuro do país - e tudo acaba com a polícia cercando o mato e realizando a maior prisão coletiva da história brasileira. Ainda mais quando esse fato se dá em 1968, em plena ditadura. Em Sitiados, o autor mergulha nesse terreno lamacento da memória nacional com uma mistura bem dosada de narrativa jornalística, crônica de época e suspense policial. Com base em arquivos do antigo Departamento de Ordem Política e Social (DOPS), entrevistas com sobreviventes, fotografias e panfletos mimeografados, a obra reconstrói os bastidores do Congresso de Ibiúna: os preparativos secretos, as estratégias de despiste e os conflitos internos da esquerda estudantil. Um episódio quase apagado da história oficial, tratado aqui com fôlego de romancista, paciência de historiador e faro de detetive. Em tempos de revisionismo descarado e de ataques à memória, e num momento em que os horrores da ditadura ganham visibilidade renovada, Sitiados é leitura urgente - e, mais do que isso, gostosa. Porque história bem contada também tem que dar prazer. O livro nos mostra que resistência também é lembrar, rir do absurdo e se recusar a aceitar o apagamento como destino. E que, às vezes, mesmo cercados, é possível sair da história pela porta da frente - ou, pelo menos, escapar pela mata, como alguns desses estudantes tentaram fazer.