Tudo este mundo é um vale de lágrimas e de misérias: nascemos chorando, e chorando morremos; e enquanto não acabamos a vida, sempre temos motivos que nos obrigam a chorar. Por uma parte, se servimos o mundo e as nossas próprias paixões, ordinariamente acontece que, desenganados com repetidos desgostos, entre mil lágrimas e queixas confessamos, que este mundo é um tirano insuportável: então conhecemos por experiência que as nossas paixões são como víboras venenosas, as quais, quanto mais alimentamos no próprio seio, tanto mais ferozes se fazem para nos morderem e para nos introduzirem no coração um insuportável fel de amargura. Por outra parte, se servimos a Deus, achamos toda a terra como um campo de batalha, e andamos cercados por toda a parte de inimigos, que nos mortificam e perseguem: se queremos fugir-lhes, basta o susto, a fadiga, a aflição para nos fazerem derramar muitas e bem amargosas lágrimas; e se lhes não fugimos, as nossas lastimosas feridas nos dão motivo para derramar lágrimas de sangue. Por onde, os que vivem aflitos são quase tantos como os que povoam a terra. Sendo logo preciso dar algum remédio a um mal, que é comum, não achei outro mais suave, mais eficaz e mais pronto do que a meditação dos tormentos e aflições de Jesus Cristo; porque as Chagas do Senhor Jesus verdadeiramente são um tesouro de paciência.