Quem eram os traficantes de africanos escravizados? Como se dava a sua participação no negócio nefasto de compra e venda de seres humanos? Qual a sua inserção na sociedade? Depois das manifestações do Black Lives Matter após o assassinato de George Floyd, nos EUA, e da derrubada da estátua do traficante Edward Colston, em Bristol, na Inglaterra, em 2020, tais perguntas estão na ordem do dia. E sendo o Brasil a principal nação escravista das Américas, responsável pela importação de mais de cinco milhões de africanos em mais de 300 anos de tráfico, as respostas tornam-se ainda mais urgentes. Os capítulos de Tráfico e traficantes na ilegalidade ajudam a responder essas questões.Outras obras haviam estudado as redes de traficantes na América lusa e no Brasil independente. Mas o livro que o leitor tem em mãos avança em relação a esses trabalhos pioneiros. O escopo geográfico (Sudeste e Nordeste) corresponde às duas principais zonas brasileiras desse tráfico. De Pernambuco, da Bahia e do Rio de Janeiro, a coletânea lança luz sobre as trajetórias de alguns desses personagens até os mais altos postos da hierarquia negreira.O período escolhido, o século XIX, também corresponde a um momento crítico da história do Brasil. Foi nesse período que traficantes construíram os principais estratagemas para burlar a repressão inglesa. Depois de 15 anos do "aprendizado da ilegalidade" (1815-1830), quando o tráfico ao norte do Equador já era ilegal, organizou-se o esquema criminoso nacional que permitiu a continuidade do comércio transatlântico de africanos escravizados por pelo menos 19 anos (1831-1850) e, em alguns casos, além. Os textos falam ainda de outros temas. Por exemplo, a construção de portos clandestinos por onde chegaram milhares de africanos todos os anos; as trajetórias de ascensão econômica e social dos participantes desse infame comércio e os investimentos oriundos desse dinheiro em outras atividades, uma abordagem, aliás, que a historiografia brasileira precisa enfrentar com mais firmeza.O livro mescla autores já consolidados na história da escravidão com uma nova geração de pesquisadores. A partir do mergulho em fontes, tanto clássicas como inéditas, nacionais e internacionais, garimpadas em arquivos e repositórios on-line, os capítulos fornecem novos dados sobre a configuração de impérios negreiros no Brasil. Se uma estrutura burocrática foi necessária para o sucesso do contrabando de africanos, não menos importante foi a partici